O nome do reino vem da forma com
que tratavam seu líder, o gana, “senhor do ouro”. Suas terras eram chamadas de
Uagadu e, embora muitas fontes se refiram a Gana como um “império”, a
nomenclatura é controversa. Os historiadores que a condenam defendem que
impérios têm intenções expansionistas. Não era o caso de Gana, que não estava
interessado em aumentar seus domínios. Queria, sim, multiplicar sua riqueza.
Nem sequer as fronteiras do reino eram bem definidas. O importante era cobrar
impostos e controlar os entrepostos comerciais.
O Reino de Gana ficava na região
oeste da África, na área que compreende hoje o Mali e o sul da Mauritânia,
alcançou seu ápice entre os séculos VII e XI. Através da captação dos recursos
naturais, principalmente ouro e metais preciosos dos territórios dominados pelo
reino, transformou-se na principal autoridade econômica da região. Desde já,
percebemos a instigante história de um reino que prosperou mesmo não possuindo
saídas para o mar e estando próximo a uma região considerada economicamente
inviável.
As dificuldades geográficas
explícitas da região começaram a ser superadas quando as populações da África
Subsaariana (ou África negra) passaram a ter contato com a porção norte do
continente. Graças à domesticação do camelo, foi possível que comunidades
pastoris próximas do Deserto do Saara começassem a empreender novas atividades
econômicas. Nas épocas de seca, os pastores berberes deslocavam-se para a
região do Sael para realizar trocas comerciais com os povos da região.
Soninquês
Entre essas populações se
destacavam os soninquês, que ocupavam uma região próxima às margens dos rios
Senegal e Níger. Esse povo começou a se organizar em comunidades agricultoras
estáveis que se uniram, principalmente, por conta dos ataques de tribos
nômades. A região que era rica em ouro aliou sua produção agrícola ao comércio
na região para empreender a formação do Reino de Gana. Dessa forma,
estabelecia-se uma monarquia no interior da África.
Escultura soninquê
O Reino de Gana surgiu por volta do século IV como Estado centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal; as orientais perto de Tombuctu; embaixo são delimitadas pelo rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma-se dizer que a origem do Reino de Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um povo que habitou o Saara Ocidental antes dessas áreas se desertificarem - antes de Cristo.
Quando Gana se encontrava em
ascensão política e econômica, no século X, foi dominada pelos soninquês, que
estenderam o poder de Gana sobre as regiões auríferas do Senegal - da curva do
rio Níger ao deserto do Saara. Essa dominação durou quase um século, enquanto
isso os povos que ali viviam eram obrigados a pagar tributos sobre o comércio
de mercadorias e a produção de metais preciosos. Por conta desse comércio,
ocorriam constantes ataques nômades nas regiões, com isso os soninquês se
organizaram politicamente e formaram um poderoso exército.
O Reino de Gana alcançou a altura
de sua grandeza durante o reinado de Tenkamenin (1037 – 1075). Através de sua
administração cuidadosa do comércio de ouro pelo deserto do Saara na África
Ocidental, o império de Tenkamenin floresceu economicamente. Mas sua maior
força estava no governo. Todo dia ele ia a cavalo e escutava os problemas e
preocupações de seu povo. Ele insistiu que a ninguém fosse negada uma audiência
e que lhes permitissem permanecer em sua presença até que a justiça fosse feita.
Tenkamenin (1037 – 1075)
Sua organização política é motivo
de controvérsia entre os historiadores que estudam o assunto. Mesmo possuindo
um amplo território e uma organização política típica dos governos imperiais,
Gana não possuía uma cultura militarizada ou expansionista. O Estado era
mantido através de um eficiente sistema de cobrança de impostos localizados nos
principais entrepostos comerciais de um território não muito bem definido.
Quanto à sucessão ao trono, ela
era matrilinear: era o filho da irmã do rei que lhe sucedia. Segundo Ki-Zerbo,
o escritor árabe Al Bakri diz que era para assegurar que o sucessor fosse
sempre de sangue real, já que seu filho poderia não ser realmente seu filho.
Mas Ki-Zerbo também cita Cheik Anta Diop, para dizer que o sistema matrilinear
foi prática comum aos povos africanos e ligada ao seu caráter agrícola e
sedentário.
O cavalo, visto que era ligado à
pompa do estado, era o transporte do soberano. O gana (rei) só montava a cavalo
e percorria a cidade, duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado
pelos grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros, sendo
os tambores utilizados em rituais ligados à religião e à corte, como mais tarde
seria comum em quase todos os desfiles reais por África. Parece certo que havia
tambores especiais para cultos religiosos e cerimônias da corte. O gana (rei) estava
vestido de túnica, assim como o herdeiro presuntivo. O gana e seus escravos,
cavalos cerimoniais e cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos
súditos era vedado usar túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas podiam
usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitiam. Ao verem o gana,
jogavam areia sobre suas cabeças. Os muçulmanos aplaudiam o rei.
Quando morria o gana, erguia-se uma grande cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo os criados que tinham servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir que não ocorreriam envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.
O poder do gana (rei) provinha da
enorme quantidade de ouro produzida em seu reino. Este monopólio permitiu aos soninquês
construir e manter enormes cidades, além de uma capital com uma população
estimada entre 15.000 e 20.000 habitantes. A produção do ouro era usada,
também, para desenvolver outras atividades econômicas, tais como a tecelagem, a
ferraria e a produção agrícola.
A economia comercial de Gana
atingiu seu auge no século VIII, ao interligar as regiões do Norte da África,
Egito e Sudão. Entre os principais produtos comercializados estavam o sal,
tecidos, cavalos, tâmaras, escravos e ouro. Esses dois últimos itens eram de
fundamental importância para a expansão econômica do reino de Gana e o
considerável aumento da força de trabalho disponível. Entre os mais importantes
centros urbano-comerciais desse período destacamos a cidade de Bambuque.
O ouro era escoado principalmente
para a região do Mar Mediterrâneo, onde os árabes utilizavam na cunhagem de
moedas. Para controlar as regiões de exploração aurífera, o rei era responsável
direto pelo controle produtivo. Para proteger a região aurífera, o uso de
lendas sobre criaturas fantásticas era utilizado para afastar a cobiça de
outros povos. O sal também tinha grande valor mediante sua importância para a
conservação de alimentos e a retenção de líquido para os povos que vagueavam no
deserto.
As cidades mais importantes
comercialmente e politicamente a partir do século XI eram Kumbi Saleh
(capital), 340 km ao norte da atual Bamako, no Mali. Outra grande cidade foi
Audagoste. Com a concorrência de outras potências no comércio do ouro, o Reino
de Gana começou a declinar.
Kumbi Saleh (capita do Reino de Gana)
O reino de Gana começou a sentir
os primeiros sinais de sua crise com o esgotamento das minas de ouro que
sustentavam a sua economia. Além disso, após o século VIII, a expansão islâmica
ameaçou a estrutura centralizada do governo. Os chamados almorávidas teriam
empreendido os conflitos que, em nome de Alá, desestruturaram o Reino de Gana.
A partir de então, os reinos de Mali, Sosso e Songai disputariam a região.
Em nome do Islamismo, os
berberes, da dinastia dos almorávidas, vindos do Magrebe, atacaram e
conquistaram Kumbi Saleh, rompendo a unidade do reino que a partir de então
ficou dividido numa parte Norte muçulmana, comandada pelos almorávidas, e uma
parte Sul, comandada pelos soninquês, onde se refugiaram os não muçulmanos.
O Reino de Gana recusou-se a se
converter ao Islã. E assim o reino mergulhou em lutas tribais até o século XII,
quando os últimos territórios ganenses foram incorporados ao Reino de Mali.
Quer saber mais sobre o Reino de Gana?
Leia o artigo abaixo, de Juan Torres,
para a Revista Aventuras na História!
Fonte: Juan Torres Portfólio
Gana é um Mundo especial. http://95tesesdosantuario.blogspot.com.br/2015/08/o-vizinho-do-amor.html
ResponderExcluirLinda matéria imagens maravilhosa.Parabéns pela página.
ResponderExcluirParabéns pela matéria.
ResponderExcluirExcelente conteúdo. Parabéns pela iniciativa.
ResponderExcluirmuito foda
ResponderExcluirparabens me ajudou muito a entender sobre o reino de Gana
ResponderExcluirqual era a religião do reino de gana?
ResponderExcluireu quero saber quem foi o primero rei dessa tribo
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